sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Porque quando não falas sei o que sentes.


Esquece o jogo, esquece a voz
Esquece o céu, e as palavras,
Solta o vento e o que guardas lá dentro,
Solta as memórias e as contradições.
Deixa tudo para ficarmos sós.

Talhas na pedra nomes comigo
Ganhas a febre do meu corpo feroz,
Deleitas o toque com a tua mão pequena
Sussurras-me na alma com uma voz serena.
E aqui estamos apenas nós.

Venda os olhos num breve instante
Repara,
Não há mais nada no horizonte
Quando se quebra a venda no tempo
Tens-me a mim para todo o sempre.

Erro e reparo o erro constante
Espero por um beijo fugidio e quente
Não chega e o tempo passa
Eu sei que não te apetecia só massa.
E aqui me tens com o tempero certo.

Cobre os discussoes com um negro leçol
Lança-as no mar distante de aqui,
Lavei-me das coisas que não tinham importância
Guardei o calor do suor da tua pele.
E aqui me encontras, para ti a qualquer instante.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Um estado


O estado líquido da cor dos teus olhos
Carrega safiras distantes de memórias vivas e brilhantes
A palpitar na solidez da minha alma…
Bem tento tentar não pensar mas não consigo.

Fui bruma na água que rega as árvores,
Constante noite nos olhos cegos que me respiram
Da alma a ansiedade calada de te ver
De te poder sequer tocar.

Em pedaços de vento rasguei o teu nome
Com a fúria da dor de não te ter.
Rasguei o teu nome em sinais de luz num vidro baço que me reflecte
Sempre da mesma maneira.

Sim
São os teus olhos cristais de vidro
Que me prendem a alma branca, sem cor
À espera que lhe activem a circulação.

Sim nesses olhos velejo
Nesse mar reflectido em céu infinito. Um céu sem nuvens.
Completo os ciclos do tempo que repousa nos meus ombros
Com lembranças de ti.

Meras palavras se apagam nas folhas verdes que vejo em jardins.
Jardins revoltos, talhados em pérolas de um simples suspiro ténue.
O suspiro que solto para nessa imensidão azul mergulhar,
Os teus líquidos olhos.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Rascunho



Linhas de fogo
Em pincéis movediços
Traçam caminhos sem destino do criador,
São lutas de côr sem voz nem som
São lágrimas caiadas dum desconhecido trovador.


Guerras perdidas em campos esquecidos
Sem causas visiveis, aparentes motivos,
Foi-se a razão com a sorte e a destreza
E no fim quem resta sem glória
Sou eu, a folha e a mesa.


Pintei de vermelho o respeito por ti
Com requintes de veludo e ternura carmim
Enfim, não soube como pintar na tela
Tanto ardor, tanta lágrima
Deixei a chuva lavar a minha aguarela.


Não sei pintar se pinto assim
Um pingo de tinta negro no fim
Agora que lembro afinal já sei
Aquilo que faltou para completar a tela
Foi o amor que tinha mas ainda assim não dei.

Assim...


São gotas de inverno as lágrimas cristalizadas

Que enredam momentos de puro prazer em seda

Na roda do beijo quente que abarca

Todo o esplendor dum suspiro que floresce.

São raios de sol de Verão

Os mergulhos dos teus dedos nos meus

Enquanto o teu sopro desce a escadaria do meu corpo em vão.

Sou estação sem nome quando fico sem ti e nada faço

Porque o meu ano és tu,

Os dias, as horas, as datas,

És tu.

O calendário, o relógio, as memórias,

És tu.E sou eu aqui sem ti.

Comigo contigo fazes um novo ano, um novo mundo

Eu sem ti perdi as horas, os dias...fugiu-me tudo.

E no fim o que me resta?

Ficar assim...

Assim...

Indivisível


Estilhaços de uma queda para a qual adormeci
Na pedra gelada de uma vida que vi,
Cantos harmónicos ao olho inocente
São olhares cansados, um sorriso que mente.
Opacas noites em branco ao relento
Lampejos, anseios de uma brisa, de um vento
Suspiros caminham, fracos, ao luar
E mais uma vez me fazes suar.
Sufocas o fôlego que sopra em mim
Rasgas o tempo que perde o seu fim
Prendes o corpo, escondes o que vejo
Roubas a vida, o meu breve desejo.
Finalmente,
Como gota de chuva na relva repouso
Ladeado de imagens, revoltas em vão
Gelo que consome o ardor do meu peito,
Não vejo ninguém,
Sozinho me deito.